terça-feira, 5 de abril de 2022

Esculturas em gesso: técnica, habilidade ou arte?

 

Esculturas em gesso: técnica, habilidade ou arte?

Iniciado com “Mãos do Trabalho” em 2018, o investimento de Alex Nuñes em esculpir em gesso tem se destacado entre os aficionados pela escultura. Atualmente dedicado a esculpir mãos de casais às vésperas do enlace ou logo depois, quando em “lua de mel”, não raro seu trabalho tem sido motivo de fortes emoções.

O impacto do branco escultural advém das impressionantes esculturas de Michelangelo (1475 -1564) que tinha prazer em esculpir, apesar de ser um pintor admirável. Pietà e Davi, duas de suas obras em mármore, são consideradas obras-primas do Renascimento. São magníficas!

Mais de 300 anos depois de Michelangelo e inspirado nele, Auguste Rodin (1840-1917) criou em mármore branco e impressionou a Europa toda. Estudioso da escultura clássica, Rodin recriou o ser humano em uma perspectiva hiper-realista, elevando as tensões dos corpos ao extremo. Pele, músculo, feições faciais, são únicas e extremamente pensadas em cada uma de suas esculturas de personagens sedutores e incrivelmente vivos.

Por que o branco nos fascina?

O Mármore é uma rocha metamórfica formada a partir do calcário considerada símbolo de luxo e suntuosidade, que se revelou propícia à escultura pela estrutura cristalina firme e leve porosidade, menos suscetível aos danos causados pela água. A imponência dos resultados na escultura sobre o mármore pode ser observada no corpo musculado de Davi, de Michelangelo. Linhas na pele, músculos e tendões salientes resultaram em formas exuberantes, perceptíveis, admiráveis.

Por que a arte que revela nossa pele impressiona?

A escultura é um modo de transformar matéria bruta como gesso, madeira, metal, rocha através da representação de formas. Os significados serão atribuídos pelo escultor ou por quem admira sua arte. Parte da concepção do que e como esculpir está associada à imitação da natureza revelada em diferentes e autorais modos de representar o corpo humano.

A técnica – extrair do gesso a cópia de nossas formas –, por si só, não resulta em uma escultura. A habilidade em tirar excessos, lixar e revelar, além de compor com gesso alguma imperfeição do molde, não se torna arte.

Arte...

A arte em gesso envolve ideia, intenção, projeto e execução. Demanda emoção, cumplicidade, confiança e desprendimento. Mas...

Para se tornar arte, necessita de uma assinatura.

Elementar.

Técnica, habilidade ou arte? Esculturas em gesso não são apenas técnica. Nem tão somente habilidade. Nas mãos de Alex Nuñes o gesso se torna arte!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Alex Nuñes e suas mãos do trabalho

 


84 anos nas mãos

A série Mãos do Trabalho surge como vestígio, assinalamento, efeito, símbolo, de parte do humano que realiza.

As mãos, nossas ferramentas primeiras, traçam, chancelam, desenham, inscrevem, marcam, cavam, martelam, empurram, batem, seguram, carregam, acarinham.

Há nas mãos uma variedade de músculos, tendões, ligamentos, falanges, pele e sensibilidade que permite um amplo leque de movimentos.

É pelas mãos que mais intensamente o sapiens se diferencia dos demais no reino animal.

As mãos são a ferramenta mais importante da humanidade. Foram as mãos – a junção do polegar com os demais dedos de cada uma das duas mãos – que propiciaram construir a civilização.

Mãos trabalham.

Umas mais; outras, nem tanto.

Mas todas as mãos merecem ser observadas

Mãos gesticulam. Mãos falam!

Ao revelar mãos em gesso, Alex Nuñes aprimorou sua arte escultória. Pela delicadeza de cada uma das marcas impressas, o escultor precisou de novas e variadas ferramentas como estilete, pinça, espátula, lixa, pincel e formões de tamanhos e formatos múltiplos.

As mãos da Cecília

Mãos de mãe, de quem costura, faz pão, cuca.

Mãos de quem acarinhou e embalou.

Mãos de uma avó que abraçou os netos e hoje, mantém o hábito de cuidar das unhas.

Mãos que vestem a aliança de casamento e o anel recebido do filho que muito amou.

As mãos da Cecília.

 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Enlaces: uma nova série de Alex Nuñes

Soneto de fidelidade

Vinícius de Moraes[1]

 

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

 

Enlaces

Esta é a nova séria escultória que Alex Nuñes está envolvido em realizar.

Admirado pelas mãos do trabalho, o escultor deu início a um novo projeto, derivado do anterior que, agora, registra as mãos dos enamorados, dos casados, dos que comemoram o casamento de longos anos ou mesmo dos recém-casados.

E a séria teve início com as mãos de Rodrigo e Adriana, amigos do escultor.

O processo de tornar eternas as mãos...

A cada novo casal que conhece, o escultor se defronta com a curiosidade sobre o processo que é composto por moldar, desenformar, retirar excessos, esculpir detalhes, valorizar sutilezas e evidenciar as alianças usadas.

Para valorizar cada uma dessas etapas, Nuñes está organizando a Exposição de imagens intitulada
“Enlaces”, que ocorrerá – de modo presencial e on-line – em abril de 2022. Aguarde o convite!



[1] Escrito em Portugal em outubro de 1939 e publicado em 1946 no livro Poemas, Sonetos e Baladas, Soneto de fidelidade é um dos poemas amorosos mais famosos do escritor brasileiro Vinícius de Moraes.


terça-feira, 28 de setembro de 2021

Parque Internacional Domadores de Pedras

 

Alex Nuñes: Domador de Pedra.

O parque internacional de Esculturas Domadores de Pedra recebeu, neste início de primavera, o Escultor Alex Nuñes. Foi na manhã desta terça, dia 28 de setembro.

O intuito da visita do escultor radicado em Bento Gonçalves desde 2018, foi inserir, na coleção do Museu, peças de suas linhas escultórias. A partir de agora, a convite do Instituto Tarcísio Michelon, esculturas das séries SapiensPortais e Cuore estarão em exposição e poderão ser adquiridas na sala de exposições do Parque.

Domadores de Pedra

Acolhido na original rota “Caminhos de Pedra” (Linha Palmeiro, 340 – Distrito de São Pedro, em Bento Gonçalves), o Parque Internacional de Escultura reúne, em 3,8 hectares providos de uma trilha para visitação e exuberante mata nativa, um grupo de 39 obras monumentais em basalto.

As esculturas resultaram da presença de arqueólogos, escultores, geólogos, taipeiros e arquitetos que, a convite do Instituto Tarcísio Michelon, reúnem-se, desde 2012  para esculpir, dialogar, aprender e ensinar a arte de “domar” a rocha.

O Simpósio Internacional de Escultures trouxe para o Brasil, desde 2012, expoentes dessa arte de países como Espanha, Alemanha, Argentina, Itália, França, Turquia, Bulgária, Bélgica Grécia, Áustria, Colômbia, Irã, Sérvia, Portugal, Peru, China e Costa Rica. O resultado do encontro desses "domadores de pedra" pode ser conhecido em ou tour pelo parque, que está aberto à visitação diariamente.


segunda-feira, 24 de maio de 2021

Mãos do Trabalho na Vanguarda Livraria

 


Mãos do Trabalho: uma exposição de marcas...

Entre 10 e 30 de junho, na Vanguarda Livraria, Alex Nuñes estará expondo parte de sua série Mãos do Trabalho.

A abertura ocorrerá presencialmente, a partir das 17 horas, no Shopping Pelotas. Na bancada, a mão do escultor acompanhada das mãos de uma Graniteira, um Professor de Educação Física, uma Diarista, um casal de empresários, uma Fonoaudióloga, um Fisioterapeuta, uma Psicóloga, um Ferroviário, uma Historiadora e uma Escritora.

Nas mãos, marcas de ofícios.

Quando menino, Alex Nuñes conheceu, como muitos brasileiros, o trabalho. Suas mãos, cúmplices e testemunhas, ainda hoje guardam muitas das marcas adquiridas. Assim como outros ofícios, a arte escultória também deixa impresso, nas mãos, seus “rastros”: indícios de ferramentas e efeitos dos traços, dos materiais empregados e da força necessária para, do basalto, “revelar” o belo.

Mas, por que não registrar essas cicatrizes?

O que é a série Mãos do Trabalho?

A série Mãos do Trabalho surge como vestígio, assinalamento, efeito, símbolo, de parte do humano que realiza.

As mãos, nossas ferramentas primeiras, traçam, chancelam, desenham, inscrevem, marcam, cavam, martelam, empurram, batem, seguram, carregam, acarinham.

Há nas mãos uma variedade de músculos, tendões, ligamentos, falanges, pele e sensibilidade que permitem um amplo leque de movimentos.

É pelas mãos que mais intensamente o sapiens se diferencia dos demais no reino animal.

As mãos são a ferramenta mais importante da humanidade. Foram as mãos – a junção do polegar com os demais dedos de cada uma das duas mãos – que propiciaram construir a civilização.

Mãos trabalham.

Umas mais; outras, nem tanto.

Mas todas as mãos merecem ser observadas. Todas podem ser esculpidas!


Mãos gesticulam. Mãos falam!

Ao revelar mãos em gesso, Alex Nuñes aprimorou sua arte escultória. Pela delicadeza de cada uma das marcas impressas, o escultor precisou de novas e variadas ferramentas como estiletes, pinças, espátulas, lixas, pinceis e formões de tamanhos e formatos múltiplos.

Ao revelar gestos, modos de usar, pactos, evidenciou a relevância da cada uma das mãos para o grupo profissional que estará na exposição que se inicia dia 10 de junho.

Data, local e hora:

Série: Mãos do Trabalho.

Abertura: 10 de junho, 17 horas.

Local: Vanguarda Livraria – Shopping Pelotas.

terça-feira, 27 de abril de 2021

A cultura egípcia: uma experiência estética


Um faraó. Alex Nuñes, 2019 
Alex Nuñes

Bento Gonçalves, 27/04/2021

 

Resumo: No trabalho descrevo parte de minha experiência estética relacionada à cultura egípcia. Utilizo memórias que foram sendo acionadas especialmente para a tarefa e impulsionadas pela presença do tema no curso que atualmente realizo: História da Arte, coordenado pela Doutora Cristine Tedesco.

 

Na infância...

A primeira imagem que lembro em minha pequena infância, se relaciona com a cultura de filmes na TV, bastante forte em minha infância. Nela, filmes, documentários, desenhos, quadrinhos e esculturas eram vistas e causavam em mim encanto e curiosidade.

 A lembrança de filmes em que pirâmides e múmias eram intensas e criaram alguns problemas nas tarefas de escola. Um exemplo é o desejo de moldar, em argila, pequenas ocas indígenas. Sim! As ocas eram construídas com argila e, as minhas apresentavam particularidades, como por exemplo: formatos de pirâmides e riscos imitando tijolos. As professoras diziam: “Isto não é oca indígena! Esta tua oca parecer uma pirâmide! Tu não tem vergonha de ser neto de índio e não saber moldar uma oca?”

Eu era criança e desconhecia moralmente esta “vergonha” da qual as professoras falavam.

Vamos em frente.

Nos filmes que tratavam da cultura egípcia (Cleópatra, A Múmia, Os Caçadores da Arca Perdida, entre outros), tive contato visual com uma espécie de ave. Como nos filmes eles não falavam da ave, só mostravam que ela representava um Deus, fiquei curioso em descobrir qual espécie de ave era. Neste período não tinha internet. Então fui à Biblioteca municipal de Capão do Leão, município em que eu vivia.

Chegando lá, eu pensava: “Aqui tem a resposta”. Quando a atendente mostrou a estante de livros, fiquei assustado. Na minha cultura familiar, tu perguntas e alguém responde. Tudo certo. Mas eu estava diante de vários livros com centenas de páginas e...

Eu só queria saber nome da ave!

Então vamos à luta, como bom gaúcho. Comecei a folhear os livros e ler. As horas começaram a voar. Não me lembro do tempo transcorrido.

Depois de um tempo, a atendente falou: “Vou fechar a biblioteca!”

Eu tentei entender: Fechar? Eu estou estudando!!!!

Ela voltou e disse: “Tu, tem que trazer a tua mãe para fazer uma ficha”.

Eu fiquei triste. Mas não desisti. Sai na rua e encontrei uma amiga da minha mãe. Corri até ela e expliquei tudo. Ela me disse: “Vamos ali, eu tenho ficha”. Ela retirou o livro “História das Pirâmides”. Fiquei satisfeito e, com o livro nas mãos, fui para casa.

Lá, tentei descobrir o nome da ave. Lendo o livro, minha alma viajou pelos labirintos das pirâmides e o topo da cabeça da esfinge. Durante esta leitura e viagem tive a sensação de ser uma ave. No decorrer da leitura encontrei um deus chamado Hórus, que tinha cabeça de ave. Pensei: será que tem alguma ligação? A ave que estou procurando saber o nome com o deus Hórus? Lendo descobri que o Deus Hórus representava a ave da minha busca. A pesquisa, então, passou a ser sobre este Deus. Estudando sua história e representação para cultura egípcia, cheguei a ave misteriosa, o falcão peregrino. Com a leitura surgiram novos personagens do mundo egípcio. Como exemplo, cito Cleópatra, Nefertiti, múmias e o misterioso  mundo dos mortos.

Durante parte da minha infância e adolescência gostei de assistir filmes e documentários sobre o mundo egípcio.

Tenho também um gosto estético pela Nefertiti. Quero futuramente produzir uma escultura com minha leitura estética da Nefertiti. Já tenho uma escultura produzida há dois anos que lembra um faraó. E, durante o curso de história da arte, estou podendo viver novas experiências estéticas das civilizações antigas.

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Salton: uma inspiração para Nuñes

 


O belo que alimenta

A vinícola Salton, um complexo localizado no distrito de Tuiuty, em Bento Gonçalves, encanta desde a chegada.

A empresa que originalmente localizou-se em Monte Belo do Sul, criou e hoje tem sob sua guarda um  novo conceito: “Terroir Salton”.

O que é isso?

O termo “Terroir” não é estranho para quem conhece minimamente o mundo do vinho.

Mas...

“Terroir Salton”?

Em busca e terras (em diferentes locais do Rio Grand do Sul), mão de obra (famílias associadas), manejo (tecnologia e pesquisa científica), qualidade (conjugação de enólogos familiares, viagens a outros centros produtores e cultura vinífera), mercado (venda de produtos para o Brasil e mais quinze outros países) e produto como espumantes de vinhos de qualidade única, a Salton cunhou, assinou o termo.

Com quatro gerações vivas atuando, é uma bem sucedida empresa. Em seu site, “terroir” é assim explicitado:

“Para oferecer um produto de excelência, o cuidado começa com a matéria-prima: a uva! Por isso, a Salton investe em pesquisa e manejo agrícola, sintonizadas com o cultivo de uvas de excelência, que são fundamentais para o resultado final de seus produtos. Explorando os benefícios dos diferentes terroirs para a produção das uvas utilizadas em seus vinhos, espumantes, frisantes, chás e sucos, a vinícola trabalha com frutos das principais regiões produtoras do Rio Grande do Sul.

 

Alex Nunes na Salton

Domingo, dia 11 de abril, estive lá. Me apaixonei. Vou voltar muitas vezes... Preciso de uma rocha de seu solo para produzir uma escultura.