domingo, 25 de novembro de 2018

Um conto sobre o escultor enquanto gente...


O Diabo na porta
Cristina Rosa

Todo mundo diz que cérebro desocupado é uma porta para o diabo.
Eu não acredito.
Em diabo, claro.
Mas em cérebros desocupados, sim.
E que nesse só entra e sai bobagem, também.
A história é sobre a condição humana, Matrix e a Filosofia.
O cara já era um adulto, tinha ralado muito na vida, cada empreitada que poucos, mesmo, humanos, aguentariam.
E o cara tinha essas experiências como um troféu. Ele podia, era cada lugar medonho em que havia estado e cada pessoa fora de esquadro que tinha conhecido que nada, ou quase, poderia assombrar.
Contava que nos lugares em que trabalhara, apesar da pauleira, apesar da desgraça, mantinha o bom humor. Ria de qualquer coisa, palhaçava com os colegas, puxava uma briga aqui, outra ali, depois passava. E ia levando. Vez ou outra, reclamava com quem – tinham ensinado – é que preparava as roubadas:
- Tchê! Só cruz para mim? E aí, Deus? Quando é que vou ter direito à sombra? Sei que o sol nasce para todos, mas, para mim, a sombra, nunca?
E o que ele fazia, enquanto isso, era brincar. Para suportar. A dor e a dor de ver o tempo passar. Tinha cada idéia! Nada sério, “tipo” amarrar os colegas na cadeira quando estavam concentrados assistindo a um curso, trocar o conteúdo do desodorante de algum mais vaidoso, colocar detergente no creme de barbear de outro, suspender em uma árvore a bicicleta do mais nervoso. E assim por diante.
Até as gurias entravam na parada: Esqueciam a calcinha no vestiário? Ela aparecia, no mural com um “procura-se dona” ao lado, no outro dia. Não raras vezes com um lembrete: “Virando freira?” Ou: “Isso é cor que se use?”
Vivia assim até o dia em que conheceu a filosofia.
E se apaixonou.
Pela filosofia e a condição humana que ela propunha conhecer...
Parecia guri em zona: feliz, não sabia com qual das gurias dançava, não sabia nem mesmo se devia dançar. Sabia que devia chegar cedo...
E a filosofia ali, como uma velha senhora, sábia, oráculo do tempo e dos saberes sobre esse tempo, ensinando, ensinando...
Nas palavras da Marilena, o olhar sobre Matrix.
Neo, Morfeu...
Filosofia!

Um comentário:

  1. Alex,um gentleman,artista de grande sensibilidade,e um parceiro nas aprendizagens e ensinamentos da Filosofia.Parabéns Alex.

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